domingo, 1 de novembro de 2015

Turismo no Reino das Filhas !

'Reino das filhas' na China atrai turistas para sociedade matrilinear

The New York Times
  • Adam Dean/The New York Times
    Turista chinesa de Hong kong tira foto com traje típico da etnia Mosou, em ponte sobre o lago Lugu, em Luoshui, na China
    Turista chinesa de Hong kong tira foto com traje típico da etnia Mosou, em ponte sobre o lago Lugu, em Luoshui, na China
Um jovem vestido com uma camisa branca, calça preta e cinto vermelho de repente escalou a lateral de uma casa de madeira e lançou os pés para dentro de uma janela de treliça no segundo andar.
"É assim que os homens de Mosuo subiam no 'quarto da flor' das mulheres", explicou Ke Mu aos visitantes enquanto o pretendente triunfante colocava a cabeça para fora da janela do quarto da flor, ou quarto íntimo, e acenava com o chapéu.
Era manhã no vilarejo de Luoshui, que fica à beira de um lago no sudoeste da China. Numa rua estreita, e empoeirada por causa da construção de um hotel próximo, um grupo de jovens, entre eles Ke, 18, preparava-se para trabalhar em mais um dia de exibição cultural no Museu Folclórico de Mosuo.
Sua tarefa é mostrar as tradições dos Mosuo, uma minoria étnica que acredita-se ser a última sociedade matrilinear do país, onde as crianças levam os sobrenomes das mães e as filhas são preferidas aos filhos.
O fascínio por essas tradições levou à expansão da indústria do turismo na região antes isolada.
Atraídos pela promessa de beleza natural espetacular e experiências culturais exóticas, centenas de milhares de visitantes, na maioria chineses, viajam ao Lago Lugu, abrigado num platô nas montanhas entre as províncias Yunnan e Sichuan.
Esses números devem crescer com a inauguração de um aeroporto local este mês e, em breve, de uma via expressa que ligará o Lago Lugu a Chengdu, capital de Sichuan.
Como consequência, várias famílias abriram hotéis à margem das águas azuis e cristalinas do lago. Os visitantes podem assistir às danças tradicionais dos moradores, vestidos com trajes coloridos, e passear de barco no lago enquanto os jovens Mosuo cantam canções de amor em Naru, a língua dos Mosuo.
Por todo o vilarejo, há placas que dizem: "Bem-vindo ao Reino das Filhas".
Por mais vívidas que pareçam suas tradições, a comunidade Mosuo enfrenta uma crise. À medida que cresce sua interação com a sociedade mais ampla, moradores e especialistas de fora temem que as práticas culturais singulares do grupo estejam diante de uma séria ameaça.
Especialistas dizem que a população dos Mosuo na região do Lago Lugu, estimada em cerca de 40 mil habitantes, está diminuindo uma vez que cada vez mais jovens se casam com pessoas de fora do grupo ou se mudam para cidades maiores para trabalhar. E sem uma língua escrita, a cultura Mosuo é particularmente vulnerável ao desaparecimento.
Adam Dean/The New York Times)
Familiares conversam diante dos portões do mosteiro de Zhamei, o mais importante para o povo Mosuo, em Yongning, na China
Mesmo dentro da comunidade, os jovens Mosuo estão cada vez mais preferindo o casamento à tradição que é a base da cultura Mosuo: a prática secular do tiesese (pronuncia-se ti-sei-sei).
Conhecida em mandarim como zouhun, ou casamento ambulante, o tiesese é uma alternativa ao matrimônio na qual os homens visitam as mulheres à noite para atender às necessidades de procriação e satisfação sexual.
Tradicionalmente, uma mulher Mosuo pode ter vários relacionamentos tiesese durante a vida, às vezes simultaneamente. Embora isso tenha mudado à medida que os valores de monogamia e parceria vitalícia se infiltraram na sociedade.
"Seria ótimo me casar um dia", disse Lu Ru, 34 anos, que tem um relacionamento tiesese. "Você consegue imaginar amar alguém tanto assim?"
Com o tiesese, o sexo permanece separado da família, e espera-se que os homens e as mulheres passem a vida na casa na qual nasceram. Como resultado, os parceiros sexuais raramente ocupam a mesma casa. A harmonia das famílias é valorizada acima de tudo, inclusive das relações conjugais.
Na cultura tradicional Mosuo, a vida familiar é estruturada em torno da unidade social básica, conhecida como a "casa grande", na qual as crianças são criadas pela mãe e sua família. E embora as crianças normalmente conheçam seus pais biológicos, os tios maternos são os responsáveis por assumir o papel paterno, ajudando a criar e sustentar os filhos da irmã.
Os homens moram com suas mães, e as várias gerações vivem juntas na casa grande.

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